Neologismos e a linguagem neutra

A linguagem neutra veio para ficar. A língua é dinâmica e está sempre recebendo palavras novas – os neologismos, ou incorporando palavras de outras línguas – os estrangeirismos. Nossos poetas e escritores sempre foram prolíficos em criar neologismos, mais no passado do que nos tempos atuais, penso eu. Não vou entrar aqui na discussão de quais sejam neologismos ou estrangeirismos, é uma questão técnica dos linguístas e não é tão simples quanto parece. leia um pouco mais aqui.

Antigamente, na minha época como dizem (século XX), com certeza surgiam menos neologismos como hoje em dia. Por exemplo, as palavras usadas na computação e na internet foram rapidamente incoporadas ao nosso dia a dia – e são consideradas neologismos e não estrangeirismos. Uma breve lista: deletar, escanear, clicar, linkar, site e linkar. Outras de origem mais populares têm aceitação mais restrita, mas já são comuns. Outra breve lista: petista, mensalão, pistolão (não é uma arma), panelaço, showmício e mimimi. E há outras que nem pensamos mais como neologismos (existem há mais de 40 anos): skate, shopping, abajur e buquê. Outras já caíram em desuso para as novas gerações: dar um bolo, dar a volta por cima, fazer cera. Não vou me arriscar aqui com as gírias e neologismos das novas gerações. E também há palavras que mudaram de sentido no uso comum, mesmo assim consideradas neologismos: picareta, papudo e gato.

Quanto aos estrangeirismos, na maioria são horríveis, não tem como lutar contra. Outra breve lista: smartphone (no Brasi o telemóvel não pegou), show, delivery, approach, coach, cool, ferryboat, hi-tech, insight, pop-star, background, drag queen, e por aí vai.

A linguagem neutra, aparentemente, enfrenta mais resistências em todes com mais de trinta (só pra citar a música de Marcos Valle) (essa vale um outro texto!). Eu não sou contra, apoio todos os motivos que levam as pessoas a usarem, pois não são motivos linguísticos, mas de acolhimento, luta contra a intolerância e desigualdade, que para o século XXI está muito grande ainda. Mas, com certeza, quando se tornar comum eu já terei partido. Penso que não vou usar, posso estar errado, pois penso que vou resistir. Vou resistir, primeiro, porque não preciso, não faço palestras ou lives (outro neologismo) para muita gente. Segundo porque é mais fácil eu substituir.

Por exemplo:

  • Todos e todas, ou todes = pessoas, gente, galera, povo, multidão, turma. Todos estão convidados = Todas as pessoas estão convidadas.
  • Ela e ele, ou elu = pessoa. Ela estava na calçada e o carro passou por cima = A pessoa estava na calçada e o carro passou por cima, coitade!
  • Amiga e amigo, ou amigue. Eu tenho poucos amigos = Eu tenho poucas amizades. Ele é de pouco amigos = Tá aí uma pessoa totalmente antisocial.
  • Pelos e pelas, ou pel@s = por. O professor respondeu às perguntas feitas pelos estudantes = O professor respondeu às perguntas feitas por estudantes.

Segundo o pesquisei não é de bom tom escrever @ ou x nas palavras para dar o sentido neutro. o principalmente motivo é que são impronunciáveis para quem está lendo ou ouvindo.

  • Dele e dela, ou delu. A casa dele foi invadida pelos ladrões = Sua casa foi invadida por ladrões
  • Os ou as, simplesmente omitir ou substituir por outro substantivo, geralmente indicando grupo. Os consultores especializados = consultoria especializada; os estudantes de graduação = turmas de graduação; os alunos = corpo discente; nossos filhos = nossas crianças.
  • Prezado (caro) e prezada (cara), ou prezade – parar de usar, pois são palavras já consideradas arcaicas.

Só atente, caro leitor e cara leitora, que concursos públicos e vestibulares não permitem o uso da linguagem neutra, ainda. Não vou falar aqui da legislação a respeito, pois ainda está muito variado, há estados e municípios proibindo totalmente e outros permitindo em parte ou totalmente.