Fofoca digital

O que é a fofoca? Segundo a wikipedia, consiste no ato de fazer afirmações não baseadas em fatos concretos, especulando em relação à vida alheia. Ainda segundo a Wikipedia, já na Inglaterra da rainha Elizabeth existia a fofoca – no caso, a fofoca real! E também segundo a Wikipedia, a fofoca é considerada um hábito feminino, mas estatisticamente os homens são mais fofoqueiros. Os assuntos mais fofocados geralmente estão ligados a fatos ou pessoas próximas, no ambiente de trabalho, na vizinhança, na família. Às vezes uma fofoca é iniciada pelo próprio agente participante. Neste caso, se for homem, este forneceu a informação (a fofoca) para gabar-se com os amigos. Já as mulheres, para liquidar com a fama de alguma concorrente. Já as fofocas de pessoas públicas tornaram-se um negócio, o das revistas de fofocas, e muito lucratico, pois muita gente gosta de ler estas fofocas – pagando ou não para isso, pois, hoje em dia, a internet está repleta de fofocas grátis.

Como característica dos agentes participantes de uma fofoca tem-se a proximidade – amigos, vizinhos, colegas de trabalho, etc. Assim, a fofoca tem alguma credibilidade, que, geralmente, não pode ser confirmada. Daí o prazer que muitos tem em passar a fofoca adiante. Mas uma fofoca pode acabar com a reputação de uma pessoa, pois, até que seja desmentida, muita água vai passar debaixo dessa ponte. E por isso também corre-se o risco de comprar uma briga. Por isso, antes de passar adiante, tem-se que medir estas consequências, ou seja, sobre quem você está fofocando. Se for do seu chefe, ou sua chefe, é melhor não arriscar. No caso dos jornalistas, o cuidado a se ter é confirmar a informação antes de escrever, ou ter uma fonte totalmente confiável.

Falando agora da internet. O que se tem hoje na internet? principalmente duas situações. A primeira é a avalanche de informações. Além das mídias convencionais (televisão e jornais, principalmente) que também estão na internet, existem as mídias sociais, novidade mais recente na internet. Mídias sociais (ou redes sociais) são os blogs, facebook, twitter, youtube, orkut, myspace, delicious, etc. Estes são aplicativos (software) para internet que permitem que o utilizador do aplicativo crie seu próprio conteúdo e troque conteúdos com outros, sem interferência (em tese) do gestor do aplicativo. Eu creio que a capacidade de todas as pessoas que estão utilizando as mídias sociais de produzir informação, ou replicá-la, é muito maior do que a capacidade das mídias convencionais. Vejamos. No Brasil há mais de 35 milhões de usuários inscritos no FacebookO tempo que as pessoas no Brasil passam na internet é maior do que 2 horas diárias. Uma pessoa, em média, via internet, é capaz de comunicar cerca de seis jornais completos por dia, seja em conversas, mensagem e troca de dados (li aqui). Faça as contas. O excesso de informação é considerada a neurose do século XXI, isto para quem leva a informação a sério, mas não é disso que estou tratando neste post. E as redes sociais também estão cada vez mais rápidas em divulgar os fatos. Num fato bem recente, a morte da cantora Whitney Houston foi divulgada 27 minutos antes no Twitter do que na Associated Press.

A segunda característica, é que a internet, mais especificamente, as redes sociais, conectou pessoas que propriamente não se conhecem. Você (no sentido genérico) escreve para uma pessoa na rede social por que a achou simpática, por qualquer motivo. Mas este motivo pode ser bastante superficial, após uma dúzia de tweets apenas, por exemplo. E até prova em contrário, você continuará achando esta pessoa simpática, e vai compartilhar e comentar boa parte do que esta pessoa compartilhar. E assim esta formada uma rede gigantesca, amorfa, sem cara nem cor nem credo. De outro lado, nas redes sociais, todo mundo diz o que pensa, pelo simples fato de que se pode dizer o que se pensa. Assim, qualquer mensagem ou conteúdo que agride alguma parte desta rede amorfa irá resultar no caos: milhares de comentários agressivos, exortando a ignorância dos pretensos autores, muitas vezes altamente discriminatórios, sem limites, muitas vezes ilegais. E como não há contato próximo entre as pessoas, a frieza e a fúria se amplificam espetacularmente (mas quase ninguém bota a cara no youtube!). E o fato de que em redes sociais como o Facebook as pessoas estão identificadas (diferentemente dos blogs), é comum também os exibicionismos de opinião – opina-se sobre tudo. Qualquer fato é motivo para dar uma opinião. Multiplique isso por vários milhares, e teremos um pequeno caos dentro do grande caos. Qual o ganho disto tudo? há que se refletir (eu tenho algumas ideias …)

E onde as duas coisas se ligam – a fofoca e a internet. Bem, a fofoca precisa de afirmações não baseadas em fatos concretos. E as mídias sociais trazem milhares de afirmações por dia – e outros milhares de informações. E está feita a festa. Aqueles que adoram uma fofoca, passam a fofocar de todos, não mais apenas do seu pequeno círculo de relações. E aqueles que não gostam da fofoca convencional, ou tem receio, entram na brincadeira digital – ou, às vezes, estão passando uma fofoca sem saber (leia último parágrafo). E esta nova modalidade de fofoca, a digital, segue fazendo seus estragos, destuindo reputações, matando pessoas, entre outras barbaridades.

Eu não poderia terminar sem um conselho, muito comum entre consultores de mídias sociais na web. Quando você receber uma notícia, aplique este novo ditado “Google before you tweet is the new think before you speak“* (google** antes de twittar*** é o novo pense antes de falar). As situações enganosas mais comuns é que a noticia é velha (e você estará passando como nova) ou não é verdadeira. Exemplos não faltam, veja alguns dos mais famosos no site http://www.e-farsas.com/. Veja uma boa síntese de conselhos aqui. Bem, eu não segui todos os conselhos ao escrever este post, e espero que tudo certo e eu passe ileso por essa!

* ainda não descobri quem criou este ditado
**google, do verbo googlar
***eu prefiria tuitar, mas me rendi ao professor Laércio

Deixe um comentário